Lucas 2, 22-40 – Irmã Sandra Araújo dos Santos, SNDdeN
2 de fevereiro de 2021
Este Evangelho, que nos é tão familiar, sempre pode nos surpreender se assim o permitirmos. Hoje, ao lê-lo para preparar minha contribuição para o espaço de espiritualidade no site das INDdeN, me vejo separando estas palavras que são contradição e complementariedade. Queda, elevação, dor, consolação, justo e piedoso.
Na história evangélica da memória da comunidade à qual Lucas pertenceu e hoje lemos, temos um retrato harmônico no qual situações diversas e até opostas se completam, numa beleza singular que fala do projeto de Deus inaugurado em Jesus e que deve ser continuado por nós, que nos autointitulamos seguidores e seguidoras de Jesus.
Vivemos tempos muito difíceis na humanidade. Tempos obscuros em que se pode ver forças contrárias lutando e há momentos, em que nos sentimos impotentes perante as forças do mal que parecem vencer a batalha.
Estamos experimentando o gosto amargo do individualismo, da ganância, da corrupção que têm proporcionado o surgimento de tantos males derivados e de tantas dores.
As relações quebradas ou inexistentes levam jovens ao suicídio, porque ninguém ouve seu grito de socorro. Porque estamos tão conectados e tão distantes. Porque nos falta o brilho e a força experimentados por Ana, Simeão e os pais de Jesus na cena evangélica que lemos hoje.
Contudo, no meio de tudo isso, percebemos uma fagulha de esperança, aquela mesma esperança de Simeão que era idoso, justo e piedoso. Mas não somente, ele era uma pessoa que confiou na promessa de Deus feita a seu povo. Simeão buscou forças na ancestralidade e tradição históricas da caminhada do seu povo.
Percebemos fagulhas de esperança, quando pessoas profissionais da escuta, psicólogos, terapeutas se colocam à disposição para ouvir a dor de outros, mesmo quando eles próprios estão passando por dores muito profundas.
Há fagulhas de esperança, quando vemos pessoas como o Pe. Júlio Lancelotti um homem idoso, arriscar sua própria saúde e a mesmo a sua vida, para em meio a uma pandemia em seu estágio mais intenso, ir às ruas levar uma sopa quente, um cobertor e acima de tudo por a boca no trombone para denunciar a injustiça da falta de moradia digna para todos. Denunciar a negligência do Estado omisso frente à situação de famílias inteiras morando na rua e ficando mais vulneráveis ao contágio pelo coronavírus e outros males.
Por fim, eu diria que em resumo essa leitura hoje me diz que é preciso piedade, para conseguir sentir profundamente a dor do outro. Mas é também preciso e imprescindível justiça para que não fiquemos apenas tristes com a dor alheia, mas estendamos a mão para apoiar e levantemos a voz para denunciar. Para que não meçamos esforços na luta em defesa da vida em plenitude e contra toda forma de mal que cause dor e sofrimento.
Me fala ainda, que a consolação esperada por Israel vem, ela na verdade ocorre a cada novo gesto solidário, quando novas atitudes de justiça acontecem. E cada vez mais somos convidadas a juntarmos forças com esta corrente para vencer o mal.
Com Simeão e Ana ousemos rezar, esperar, crer. Mas, acima de tudo agir inspiradas pelo sopro gentil e provocador da Divina Ruah.
Lucas 2, 22-40
E cumprindo-se os dias de purificação dela, segundo a Lei de Moisés, o trouxeram a Jerusalém, para o apresentarem ao Senhor. (Como está escrito na Lei do Senhor: Todo macho que for o primeiro no ventre da mãe será chamado santo ao Senhor.) E para darem a oferta, segundo o que está dito na Lei do Senhor, um par de rolas, ou dois pombinhos.
E eis que havia um homem em Jerusalém, cujo nome era Simeão; e este homem era justo, e temente a Deus, e esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele. E lhe fora revelado pelo Espírito Santo, que não veria a morte, antes que visse ao Cristo do Senhor.
E veio pelo Espírito ao Templo; e quando os pais levaram para dentro ao menino Jesus, para com ele fazerem segundo o costume da Lei; Então ele o tomou em seus braços, e louvou a Deus, e disse: Agora despedes, Senhor, em paz a teu servo, segundo a tua palavra; Pois meus olhos já têm visto tua salvação. A qual preparaste perante a face de todos os povos. Luz para iluminação dos gentios, e para glória de teu povo Israel. E José e sua mãe se maravilharam das coisas que se diziam sobre ele. E Simeão os abençoou, e disse a sua mãe Maria: Eis que este é posto para queda e levantamento de muitos em Israel; e para sinal que falarão contra ele, (E também uma espada traspassará tua própria alma) para que de muitos corações se manifestem os pensamentos. E estava ali Ana, profetisa, filha de Fanuel da tribo de Aser. Esta já tinha grande idade, e havia vivido com [seu] marido sete anos desde sua virgindade. E era viúva de quase oitenta e quatro anos, e não deixava o Templo em jejuns, e orações, servindo [a Deus] de noite e de dia.
E esta, vindo esta na mesma hora, agradecia ao Senhor, e falava dele a todos os que esperavam a redenção em Jerusalém. E quando acabaram de cumprir todas as coisas, segundo a Lei do Senhor, voltaram para a Galileia, para sua cidade de Nazaré. E o menino crescia, e era fortalecido em espírito, e cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele.
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