Primeiro Domingo da Quaresma – Irmã Katia Webster, SNDdeN português

Mar 2, 2022 | Gospel Reflections

6 de março de 2022

Lucas 4: 1-13

Hoje, primeiro domingo da Quaresma, refletimos as tentações que Jesus enfrentou no deserto durante quarenta dias e quarenta noites.

Este trecho vem logo depois do batismo de Jesus e a memória da genealogia de Jesus fazendo memória de onde veio Jesus, filho do Povo de Deus.  Cheio do Espírito, ele foi conduzido pelo Espírito ao deserto.

O que é o deserto? O que vem para nossa memória?  No tempo de Moises, o povo saiu da escravidão no Egito, e passou 40 anos no deserto aprendendo ser Povo de Deus.  Ser Povo de Deus é confiar num no outro, numa na outra, confiar em Deus, se organizar para cuidar de todo mundo, lidar com problemas de liderança e se defender dos perigos no deserto.

Lembramos que o deserto é o lugar onde às vezes os profetas foram para encontrar com Deus, consigo mesmo e se alinhar melhor com a missão de Deus.

No tempo de Jesus o deserto era onde morava o povo impuro, os leprosos, os pobres, os marginalizados da sociedade e até os bandidos.  O deserto é um lugar onde a vida era muito difícil, não tem nada romântico do deserto.  É uma realidade dura, ameaçadora e fatal muitas vezes, mas no deserto este povo rejeitado achou um jeito de viver, de sobreviver.

Cheio do Espírito, Jesus é conduzido para o deserto.  Será que este povo marginalizado o acolheu, partilhou com ele, ajudou ele achar comida, água, abrigo e ensinou ele viver no meio deles? Neste Espírito, Jesus estava aberto para aprender, estava aberto para ver o mundo de outro jeito, do jeito dos marginalizados, dos sem nadas.

Lá Jesus enfrenta Satanás, o Diabo, que confronta Jesus com três tentações:  virar pedra em pão para saciar a fome dele, receber o poder sobre os reinos da terra se prestar culto ao Satanás, e tentar Deus se jogando do alto para os anjos pegar ele.  Jesus nega todas três com uma frase que afirma sua posição diante de Deus:  a pessoa não vive somente do pão, mas de toda a palavra que vem da Boca de Deus; adorarás somente a teu Deus e não tentarás teu Deus.

Quando o Satanás confrontou Jesus ele bem podia ter estado com fome e sede.  Mas depois de 40 dias no deserto, cheio do Espírito, ele responde com integridade e liberdade.

Fico pensando:  será que foi a convivência no deserto que ensinou estas coisas, que deu coragem de responder ao seu tentador e resistir às tentações?  Foi nesta convivência com os pobres, os impuros, os marginalizados da sociedade e até os bandidos que Jesus aprendeu o que precisava para resistir:  partilhar, servir, amar, prestar culto a Deus e que ajudou na sua preparação para a missão?

Uma vez que ele voltou do deserto e assumiu sua missão, estas são os três eixos que ele vivia e ensinava: em vez de acumular, partilhar; em vez de dominar, se apegar com o povo pobre e fraco e servir, curar, perdoar, restaurar a dignidade e valor do povo pobre; e em vez de usar e manipular Deus, abrir o coração ao amor e misericórdia de Deus e viver este amor e misericórdia com abundância e liberdade em gratidão.

Satanás ficou sem resposta e foi embora para voltar a um tempo oportuno.

No início deste Quaresma de 2022 num mundo com guerras, povos migrando com muito sofrimento, desastres que se diz naturais mas são consequências da destruição da natureza, coronavírus que continua matando gente com países ricas vacinando seu povo com 4 doses e países pobres nem conseguindo uma dose para toda sua população e povos originários no mundo inteiro sendo destruído  entre outras situações que mostram que continuamos a viver sem partilha, sem serviço, sem amor e misericórdia universalmente.

Ninguém nega que tem resistências. Tem, sim.  Vamos ver uma:

Na ocupação Resistência da Volta Grande, 54 famílias vivem no seu pedaço de terra plantando arroz, milho, feijão, cacau, açaí e outras hortaliças.  Um homem, fazendeiro, está grilando 6 mil hectares, a Resistência da Volta Grande está nesta terra.  Além do trabalho nas suas roças o povo tem trabalhado junto para colocar energia elétrica em todas as casas, pressionar o prefeito de mandar as máquinas para fazer a estrada, construir um abrigo para escola e trazer o povo da secretaria da Educação para matricular os alunos e as alunas.

O fazendeiro vem perseguindo o povo.  Mandou queimar a casa de farinha de um agricultor, mandou tratores para derrubar a casa de outro agricultor, mandou tocar fogo na casa de uma agricultora, mandou pistoleiros para ameaçar uma mulher com duas pequenas crianças quando seu marido não estava em casa e fica ameaçando o povo com a polícia conivente das ameaças do fazendeiro contra as famílias e fica dizendo que ele vendeu e os novos donos vão chegar, melhor eles saírem.

Diante destas ameaças, estas tentações de desistir do projeto de assentamento, de acreditar nas ameaças do fazendeiro, aceitar um dinheirinho por seu trabalho e abandonar as terras, ir viver na vila ou cidade, o povo fica mais forte na sua organização, mais firme na sua resistência, planta mais e desenvolve a agricultura familiar diversificado, defende as pessoas mais atacado pelo grileiro e não cai na cantado do fazendeiro.

O fazendeiro afasta por um tempo, e depois vem de novo com outra estratégia.  E o povo continua na sua resistência.

Temos 40 dias (mais ou menos) para rezar; para olhar individual e coletivamente onde encontramos nossas tentações de acumular, dominar e manipular Deus; onde estamos resistindo vivendo a partilha, o serviço, o amor, confiança em Deus e a gratidão e o que mais podemos fazer como pessoas e comunidades. 

 

 

Lucas 4: 1-13

Jesus, pois, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão; e era levado pelo Espírito no deserto, durante quarenta dias, sendo tentado pelo Diabo. E naqueles dias não comeu coisa alguma; e terminados eles, teve fome. Disse-lhe então o Diabo: Se tu és Filho de Deus, manda a esta pedra que se torne em pão. Jesus, porém, lhe respondeu: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem.
Então o Diabo, levando-o a um lugar elevado, mostrou-lhe num relance todos os reinos do mundo.
E disse-lhe: Dar-te-ei toda a autoridade e glória destes reinos, porque me foi entregue, e a dou a quem eu quiser; se tu, me adorares, será toda tua.
Respondeu-lhe Jesus: Está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás. Então o levou a Jerusalém e o colocou sobre o pináculo do templo e lhe disse: Se tu és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo; porque está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu respeito, que te guardem;
e: eles te susterão nas mãos, para que nunca tropeces em alguma pedra.
Respondeu-lhe Jesus: Dito está: Não tentarás o Senhor teu Deus.
Assim, tendo o Diabo acabado toda sorte de tentação, retirou-se dele até ocasião oportuna.

 

 

Conheça a Irmã Katia Webster, SNDdeN

Katy Webster (known as Kátia in Brazil) entered Notre Dame at Ilchester, Maryland in 1976. After initial formation in the Baltimore-Washington area, Katy was missioned to Brooklyn, New York. She taught sixth graders for nearly 5 years at St. Catherine of Genoa School. In February, 1984 Katy was sent to Brazil by the Sisters of Notre Dame de Namur, with the blessings of students and teachers of St. Catherine’s. Kátia lived in Maranhão for 9 years. Then in 1993, she moved to Pará where she has lived at Centro Nazaré on the Transamazon Highway, Altamira, Anapu and Itaituba. Kátia is currently back in Anapu. Kátia has lived with and among the people who struggle to live community while facing the greed of ranchers, loggers and lately the mining companies, and always learning far more than teaching. It is a blessed journey of faith and trust in the good God.