11 de setembro de 2022
Lucas 15, 1-32
As palavras que abrem o Evangelho de hoje nos colocam firmemente no centro do conflito entre Jesus e os fariseus e escribas e, portanto, na encruzilhada de nossa escolha de ser realmente um seguidor ou seguidora viva de Jesus. Quem acredita em Jesus e acredita seriamente em si mesmo como seguidor de Jesus, não pode evitar este conflito. Com quem nos reunimos em nossa vida cotidiana? Será que percebemos o sofrimento ao nosso redor? Somos capazes de nos deixar envolver no sofrimento dos outros e das outras? Ou nossas vidas estão ocupadas demais para abraçar esta realidade crescente de sofrimento, rejeição e marginalização em nossa sociedade? Será que nos colocamos em situações em que compartilhamos e comungamos com aquelas pessoas diferentes de nós, aquelas a quem nossa sociedade rejeita e marginaliza? Enquanto os escribas e fariseus resmungam sobre Jesus recebendo e comendo com os pecadores, Jesus os cerca com três parábolas maravilhosas e esclarecedoras. As parábolas do pastor e sua ovelha perdida e a mulher e sua moeda perdida são exemplos diários em nossas vidas. Muitas de nossas experiências cotidianas provavelmente refletem as parábolas da ovelha perdida e da moeda perdida, pelo menos a perda de algo importante e precioso para nós. Mas a questão do Evangelho é: O que acontece quando encontramos a ovelha perdida ou a moeda perdida? Será que realmente celebramos? Chamamos nossos amigos, amigas e nossa comunidade para regozijar-se e compartilhar de nossa gratidão a qual possamos acolher os pobres, necessitados e perdidos em nossa sociedade? Temos uma comunidade com qual podemos compartilhar nossas vidas e nossos bens, com qual podemos compartilhar nossas refeições, nossas celebrações, nossas preocupações. Temos uma comunidade na qual podemos acolher outros que estão sozinhos, perdidos e famintos? Se não temos um lugar sagrado deste em nossas vidas, como podemos ser seguidores e seguidoras de Jesus? Como podemos viver como Ele viveu, ser como Ele é, oferecer esperança, vida e comunidade para nós mesmos e para os outros e as outras?
A parábola do Pai e seus dois filhos nos coloca no meio desta tragédia, a tragédia de não criar e construir comunidade, a tragédia de não ter tempo, a tragédia do individualismo que nos rodeia e nos envolve, a perda de vista do chamado que Jesus oferece em nossas vidas. A parábola dos dois filhos não é sobre o filho pródigo, como tantas vezes nos foi dito. Trata-se de uma família que vive talvez sob o mesmo teto, mas em mundos distantes e isolados um do outro. Os filhos não são irmãos. Os irmãos não são filhos. Esta relação não existe. O pai é pai, relaciona-se e age como pai, mas o relacionamento de pai e filho não existe. POR QUÊ? O pai ouve e atende aos desejos de seu filho mais novo. Mas na divisão lembra-se também do filho mais velho. Este filho mais velho permanece em silêncio até o final da parábola. O mais jovem intoxicado com seus próprios sonhos e desejos, pega sua parte e vai embora. Depois de gastar toda sua herança, o filho mais novo está com fome, frio e sozinho. Ele encontra algum tipo de serviço cuidando de porcos. Mas não lhe foi permitido comer a comida deles. Em sua fome, humilhação e miséria, ele se lembra da casa de seu pai e da maneira como seu pai trata os criados e os trabalhadores. Para aliviar suas necessidades, o filho volta à casa de seu pai esperando ser contratado e receber o salário justo que seu pai sempre ofereceu. Não há sinal de remorso, reconhecimento de erro, desejo de pedir perdão. Ele simplesmente reconhece a realidade que criou e agindo dentro dessa realidade avisa seu pai que ele percebe que perdeu seu direito de ser considerado um filho.
O pai, entretanto, responde totalmente como pai, compassivo, regozijando-se com o retorno de seu filho perdido. Ele sai para recebê-lo, abraça, beija e chama por roupas e regalias dignas de seu filho. Ele também chama os criados para preparar o banquete de celebração, convidando a todos a participar. “Pois este meu filho estava morto, e está vivo novamente; ele estava perdido e foi encontrado”. E começaram a celebrar. Mas não há nenhuma indicação na parábola de que o filho tenha assumido seu status de retorno, que ele realmente reconheça seu erro, que ele se regozije em ser novamente membro da família.
E, de repente, o filho mais velho aparece e reage. Ao se aproximar da casa, ele ouve a música e a celebração. Ele chama os criados para descobrir o que está acontecendo. Sua resposta é raiva e recusa a entrar nas comemorações. Seu pai vai até ele e o implora. Mas ele responde a seu pai: “Veja. Eu trabalho para ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua e nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos”. Mas quando chegou este teu filho que devorou teus bens com prostitutas, matas para ele um novilho gordo”!
E a resposta do pai: “Filho, você está sempre comigo, e tudo o que é meu é seu. Era preciso festejar e nos alegrar, pois esse seu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado”.
A parábola termina. O filho mais novo parece continuar no meio da celebração, embora claramente ainda não tenha compreendido as consequências de seus atos e decisões precipitadas. O filho mais velho, zangado e revoltado, permanece fora e longe da celebração. Há festa, comida, bebida e barulho. Mas a comunidade não existe. O filho mais novo voltou, mas a família não está viva e bem para recebê-lo, para caminhar com ele, para levá-lo ao verdadeiro arrependimento e a uma nova vida. O filho mais velho permanece intolerante, indignado e incapaz de abrir seu coração e seu lar a um irmão perdido que começa a trilhar o caminho para uma nova vida. Voltamos ao início do Evangelho de hoje: “Agora os cobradores de impostos e pecadores estavam todos se aproximando de Jesus”. E os fariseus e os escribas resmungam dizendo: ” Esse homem acolhe pecadores e come com eles”. E eu? Onde eu estou? Onde estamos neste evangelho, nesta parábola? Jesus nos chama a que? Jesus nos chama a fazer o que? Para quem?
Lucas 15, 1-32
Ora, chegavam-se a ele todos os publicanos e pecadores para o ouvir.
E os fariseus e os
escribas murmuravam, dizendo: Este recebe pecadores, e come com eles.
Então ele lhes propôs
Qual de vós é o homem que, possuindo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não
deixa as noventa e nove no deserto, e não vai após a perdida até que a encontre?
E achando-a,
põe-na sobre os ombros, cheio de júbilo;
e chegando a casa, reúne os amigos e vizinhos e lhes
diz: Alegrai-vos comigo, porque achei a minha ovelha que se havia perdido.
Digo-vos que
assim haverá maior alegria no céu por um pecador que se arrepende, do que por noventa e nove
justos que não necessitam de arrependimento.
Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas e
perdendo uma dracma, não acende a candeia, e não varre a casa, buscando com diligência até
encontrá-la?
E achando-a, reúne as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque
achei a dracma que eu havia perdido.
Assim, digo-vos, há alegria na presença dos anjos de
Deus por um só pecador que se arrepende.
Disse-lhe mais: Certo homem tinha dois filhos.
O mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me toca. Repartiu-lhes, pois,
os seus haveres.
Poucos dias depois, o filho mais moço ajuntando tudo, partiu para um país
distante, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente.
E, havendo ele dissipado
tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a passar necessidades.
Então foi
encontrar-se a um dos cidadãos daquele país, o qual o mandou para os seus campos a apascentar
porcos.
E desejava encher o estômago com as alfarrobas que os porcos comiam; e ninguém
lhe dava nada.
Caindo, porém, em si, disse: Quantos empregados de meu pai têm abundância
de pão, e eu aqui pereço de fome!
Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e dir-lhe-ei: Pai, pequei
contra o céu e diante de ti;
já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos
teus empregados.
Levantou-se, pois, e foi para seu pai. Estando ele ainda longe, seu pai o viu,
encheu-se de compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou.
Disse-lhe o filho:
Pai, pequei conta o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho.
Mas o pai
disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e
alparcas nos pés;
trazei também o bezerro, cevado e matai-o; comamos, e regozijemo-nos,
porque este meu filho estava morto, e reviveu; tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a
regozijar-se.
Ora, o seu filho mais velho estava no campo; e quando voltava, ao aproximar-se
de casa, ouviu a música e as danças;
e chegando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo.
Respondeu-lhe este: Chegou teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu
são e salvo.
Mas ele se indignou e não queria entrar. Saiu então o pai e instava com ele.
Ele, porém, respondeu ao pai: Eis que há tantos anos te sirvo, e nunca transgredi um mandamento
teu; contudo nunca me deste um cabrito para eu me regozijar com os meus amigos;
vindo,
porém, este teu filho, que desperdiçou os teus bens com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado.
Replicou-lhe o pai: Filho, tu sempre estás comigo, e tudo o que é meu é teu;
era justo,
porém, regozijarmo-nos e alegramo-nos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; tinha-se
perdido, e foi achado.